01
Se o filho do carpinteiro
E da moça pobre, Maria,
Voltasse à terra hoje em dia
Qual seria o seu roteiro?...
Em qual cocheira ou lixeiro
Maria ia descansar?
Qual Gaspar, qual Baltazar,
Trariam mirra e incenso?
São nessas coisas que penso
Quando me encontro a rezar.
02
Para assassinar rebentos
Qual o novo Herodes, rei?
Contra os doutores da lei,
Quais os novos argumentos?
Qual ação, em quais momentos
Da vida de qual nação?
Qual seria a região
Escolhida pra pregar?
Quem Cristo iria chamar
Pra ser apóstolo e irmão?
03
Quem seria o Satanás
A pô-lo em cima do monte,
Mostrando a ele, qual fonte
Do poder e do cartaz?
Qual Dimas, qual Barrabás?
Qual seria a solução
Pra multiplicar o pão?
E em quais vendilhões do templo
Cristo daria um exemplo
Com seu chicote na mão?
04
Penso muito em quem seria
A Maria Madalena?
Qual Judas entrava em cena
Pra lhe trair qualquer dia?
Que Caifás lhe acusaria?
Que Sinédrio o condenava?
Que Pilatos se afastava
Temendo a repercussão?
E qual o centurião
Que a Cristo crucificava?...
05
Buscando respostas, fico
Olhando a sociedade
Tão cheia de iniqüidade
Entre o pobre e o rico;
Meu juízo eu crucifico
Procurando entender isto,
Mas pra onde eu olho, avisto
O cão brigando com Deus
E os modernos fariseus
Matando e vendendo Cristo...
06
Vendo que o barão só faz
Tudo contra Cristo e os seus
Penso que o mundo é de Deus,
Mas quem manda é satanás
Então eu olho pra trás
Pelo livro da verdade,
Vejo que a humanidade
Tá repetindo o passado
E o pobre é tão massacrado
Quanto na antiguidade...
07
Zé Carpinteiro seria,
Hoje qualquer operário
Que com um magro salário
Sustenta a magra Maria.
Ela, sem anestesia,
Não descansa em cama bela.
E sem previdência, ela
Pare debaixo da ponte,
Num casebre ao pé do monte
Ou num barraco em favela.
08
Gaspar, Belchior, Baltazar.
Reis Magos de todas cores
Representantes das dores
Do anseio popular,
Cristo os vai encontrar
Nos sindicatos, em ação,
Por entre a população,
Nas pastorais, contra o velho
Pregando o novo evangelho
Que prega a libertação.
09
Herodes temos demais
Mandando matar crianças
Mas hoje não usam lanças
Pra não revoltar os pais...
As multinacionais
Com DIU, pílula e ligação
Matam a nova geração,
Cortando pelas raízes
Para que os ricos países
Comam nossa produção!
10
Para os doutores da lei
É fácil a contestação
Que alguns têm bíblia na mão
Porém pra quê eu não sei.
Enquanto amigos do “rei”
Juízes e senadores
Forjam leis e jogam flores
Em uma sociedade
Que defende a liberdade
De explorar trabalhadores...
11
Cristo vindo vai pregar
Na África e América Latina
Aonde sua doutrina
Tem que se concretizar.
Vem para desafiar
O selvagem capitalista
E a águia imperialista
Que as nossas riquezas toma,
Da mesma forma que Roma
Fez com a pátria do Batista.
12
Para o seu apostolado
Não chamaria doutores
Nem ricos exploradores
Que esse povo é desviado...
Chamaria um maltrato
Operário da construção;
Uns metalúrgicos, que são
De um grupo mais lutador,
Um mineiro, um pescador
E um camponês do sertão.
13
Satanás é o potentado
Que vendo o seu bom início
Lhe chama em sem edifício
E lhe diz: - Tome cuidado,
Se você ficar calado
Tem emprego e posição,
Inda dou mais um milhão
Para esconder na Suíça,
Mas nunca fale em justiça
Nem pregue a libertação...
14
Pensando em Deus, eu contemplo
O homem desde criança,
A construção da esperança
Que Deus fez pra ser seu templo.
Aí vejo o mau exemplo
Dos atuais fariseus
Explorando os irmãos seus,
Mas Cristo trará chicotes
Pra estes falsos sacerdotes
Que vendem o templo de Deus...
15
O Dimas e o Barrabás
São os marginalizados
Que findam desesperados
Com as divisões sociais...
Quanto aos pães, temos demais
Não é pra multiplicar
Pois é bastante somar
Dos poucos que têm riqueza
E dividir com a pobreza
Que nunca mais vai faltar!
16
Madalenas hoje são
As mulheres oprimidas
Algumas prostituídas
Por força da precisão.
Neste mundo de machão
Mulher só vale a metade,
É usada com maldade
Em cozinha, cama e mesa
Que o instinto de dureza
Cega o homem pra igualdade.
17
Uns governantes Pilatos
Vivem com as mãos lavadas
E as consciências pesadas
Sujas iguais às dos ratos.
Acabam com sindicatos,
Sacodem policiais
Contra os cristãos atuais
Negando ao povo o conflito
Com um discurso bonito
Pelos rádios e jornais.
18
Já não tem centurião
Já não se usa mais cruz.
Hoje pra matar Jesus
Tem tortura e esquadrão.
Matam mesmo na prisão;
Pra o povo ser enganado
Jogam num morro afastado,
Pra dizer que ele não presta,
Bota a mão branca na testa
E um ladrão de cada lado.
19
Se Cristo voltasse agora
Pregando o reino de Deus
Encontrava os fariseus
Mais duros do que outrora...
Pois hoje o lobo devora
Com mais maldade o cordeiro.
Portanto, se o justiceiro
Voltar pregando o que pensa
Só tem uma diferença...
Eles matam mais ligeiro.
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