O PP barganhou o Ministério da Saúde para votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Ao assumir a Presidência, Michel Temer cumpriu o combinado. Entregou a pasta a Ricardo Barros, um deputado patrocinado por empresas de seguros.
Ao saber da nomeação, o veterano Paulo Maluf fez piada: “Ele não é médico, mas entende de operações”. Falava com conhecimento de causa. Barros era tesoureiro do PP, o partido com mais políticos na mira da Lava-Jato.
Na primeira semana no cargo, o ministro defendeu uma redução na cobertura do SUS e informou que não pretendia fiscalizar a qualidade dos planos de saúde. Pouco depois, disse que pacientes inventam doenças e que médicos fingem que trabalham.
As provocações distraíram a plateia enquanto Barros fazia o que sabe. Numa de suas operações, a pasta pagou R$ 20 milhões por remédios que nunca foram entregues. Segundo a Procuradoria, o golpe causou a morte de 14 pacientes com doenças raras. O caso envolvia o empresário Francisco Maximiano, agora citado no rolo da Covaxin.
Em 2017, a Comissão de Ética Pública concluiu que Barros usou o cargo para fazer campanha, prometendo verbas e hospitais em redutos de aliados. A advertência deu em nada. Ele continuou no governo até o prazo limite para concorrer ao sexto mandato.
Em agosto passado, Jair Bolsonaro recrutou o ex-ministro para operar em seu nome na Câmara. “Eu o convidei e ele aceitou prontamente a honrosa missão de liderar o governo. Para nós é muito bom”, disse o presidente. “Estou muito grato e muito feliz com a chegada dele para nos ajudar a mudar o Brasil”, animou-se.
O país não mudou, e Barros também não. Em setembro, ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal que apurava crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O capitão protegeu o ex-colega de partido. No mês passado, ainda presenteou sua mulher, Cida Borghetti, com uma sinecura no conselho de Itaipu.
Em depoimento à CPI da Covid, o deputado Luis Miranda disse que Bolsonaro sabia do envolvimento de Barros na negociação da Covaxin. Os indícios contra o deputado do Centrão já eram públicos. Ele apresentou a emenda que permitiu a compra da vacina indiana e pressionou a Anvisa para acelerar sua liberação.
Uma reportagem da revista “Veja” sugere que Barros não operava sozinho. O senador Flávio Bolsonaro também abriu portas no governo para o dono da Precisa. Chegou a acompanhá-lo em audiência com o presidente do BNDES, seu amigo de infância.
À CPI, o Zero Um descreveu o lobby com o “senhor Maximiano” como uma ação pelos “brasileiros que mais precisam”. “Não tem nada a ver com vacina”, desconversou. Seu advogado, o notório Fred Wassef, baixou no Senado na noite de sexta. Surpreendido por repórteres, trancou-se num banheiro feminino.
Barros virou a bola da vez. Será chamado à CPI e responderá a processo por quebra de decoro. Com o primeiro-filho na história, o capitão deve ter dificuldade para se livrar logo do operador. Outro problema para o governo é a proximidade entre o deputado e o presidente da Câmara. Na quarta-feira, Arthur Lira receberá um “superpedido” de impeachment contra o capitão.
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