A Casa do Estudante do Rio Grande do Norte era um ambiente secundarista e universitário muito descolado. Tinha gente todos os lugares. Muita gente casava e continuava por lá com a esposa. Marco da resistência estudantil nos anos 60 e 70, seu público era formado por estudantes pobres do interior do estado. Churchill, Atheneu, ETFRN e UFRN formavam 80% dos estudantes. Depois da inauguração da Residência Universitária do Campus da UFRN, houve uma debandada e a comida do Restaurante Universitário era muito melhor do que a “gororoba” da Casa do Estudante. Os mais pobres da Casa, segundo eles próprios, eram Sérgio, de Florânia, Hernane, de Campina Grande, Celso, de Areia Branca e Rubens de Caicó. Apesar de andar sempre os quatro, foram apelidados no Beco da Lama como o “Esquadrão dos Três”. Diziam que, dada a insignificância de Rubens, 1,5m de altura, foi excluído da contagem. Viviam lisos procurando lugares para beber de graça. Nos últimos anos haviam sido expulsos de várias festas e recepções onde entravam sem ser convidados. Era uma sexta-feira, sem poder entrar nos bares da Cidade Alta, dada a inadimplência geral, estavam os quatro sentados na Praça Coronel Lins Caldas, em frente ao prédio histórico da Casa, quando aparece Adriana Rachel, nome de batismo de Sebastião, um travesti que viera de Campina Grande fazer um “número de streapper” na Boite de Maria Boa, não deu certo, e acabou como cozinheiro do Chapinha, dizendo que estava juntando gente para ir a um comício de Chico da Bomba na cidade de João Câmara, a 70 km de Natal e que o caminhão já estava na Praça João Tibúrcio com uma grade de Pitu liberada. Se olharam e pensaram:- Essa é a nossa única chance de beber de graça e vamos nessa. Francisco Paulino de Almeida, conhecido como Chico da Bomba, duas vezes prefeito do município, ficou conhecido na história política do Rio Grande do Norte, por causa do seu vocabulário e por sua verve em responder às provocações de seus adversários políticos. Muitas histórias foram inventadas pela elite politica local, pois ele, um simples motorista de caminhão, os tirou do poder. Numa delas, diziam que o Auditor do Tribunal de Contas perguntou ao prefeito: seu Chico, como está a Zona Rural? E ele respondeu: “A Zona, anda com o movimento fraco e as muié foram tudo pra banda de Natal e a Rural estava velha, bebendo óleo e eu vendi”. Esse comício tinha algo de especial: seu Chico ia “dar o troco” a uma provocação de um deputado chamado Magnus Kelly, que insinuara que ele teria uma amante em Natal. A cidade estava agitada esperando a resposta que sabiam, seria dura.. Seu Chico tinha dificuldade de se expressar e por mais que seu filho Edilson, conhecido como Bombinha, o ensinasse: Pai é Magnus Kelly, ele só conseguia pronunciar “Matusquela” e assim ficou. No Comício, seu Chico negou veementemente que tivesse uma rapariga na capital e que só se fosse “a mãe dele, Matusquela”. O povo em êxtase, aplaudia. Encantados com as muitas histórias de Chico da Bomba, os quatro voltaram para Natal ainda naquela madrugada e sentaram na praça João Tibúrcio para tomar a última garrafa de Pitú que sobrara. Rubens, que imitava todo mundo, resolveu fazer um discurso imitando Chico da Bomba, com mais uma de suas histórias. Os outros três, junto com Adriana Rachel, formavam a agitada plateia. O silêncio varava a madrugada, quando ouvia-se de longe: “Eu estava ontem na prefeitura quando chegou uma senhora pobre me pedindo uma casa. “Seu Chico, me dê uma rancho pra eu morar com meus fi. Eu disse a ela que não tinha dinheiro da prefeitura para construir casa, mas se ela levantasse os quartos eu podia colocar a madeira pra dentro”. A vizinhança vendo àquela algazarra, chamou a polícia que acabou com a festa. Foto/Texto:- Reprodução.
Gilvan Rodrigues Leite (Gestor Público e Ambiental Aposentado)
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