A Petrobrás comunicou às distribuidoras do Nordeste do País que não vai mais fornecer gás natural em 2022. O rompimento acontecerá após décadas de abastecimento contínuo e ininterrupto. O anúncio pegou de surpresa os Estados, que têm cerca de cinco meses para promover uma chamada pública para buscar novos fornecedores, prazo considerado curto por alguns deles.
O temor é que não seja possível substituir a Petrobrás a tempo e o suprimento aos consumidores seja interrompido, num primeiro momento, segundo fontes de governos que falaram ao Estadão/Broadcast em condição de anonimato. A interrupção é mais um passo dado de retirada da Petrobrás do mercado nordestino para se concentrar no Sudeste.
A comunicação de suspensão do fornecimento de gás, no ano que vem, foi feita diretamente às empresas distribuidoras, que têm os governos estaduais como sócios. O tratamento, no entanto, foi diferenciado, de acordo com o tamanho e a importância dos mercados de gás.
Para a Bahia, maior consumidor da região e um dos maiores do País, a estatal disse que não vai suspender o abastecimento até que seja firmado novo contrato com outra empresa fornecedora. O mesmo deve acontecer no Ceará e em Pernambuco. Para mercados menores, no entanto, a petrolífera não deu a mesma garantia, segundo fontes.
O mercado nordestino de gás é o segundo maior do País, atrás apenas do Sudeste, segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Natural (Abegás). Na região, foram vendidos 15,26 milhões de m³ por dia do insumo na média do primeiro trimestre (dado mais atualizado). Esse volume representa 21,8% do total comercializado no período, em todo País. O maior consumo disparado é para geração de eletricidade e na indústria, de cerca de 6 milhões de m³/dia, cada. Existe, porém, uma grande disparidade na demanda por Estado.
No centro dessa mudança está o arrendamento do terminal de regaseificação da Bahia, pelo qual é importado o insumo na forma liquefeita. A Petrobrás tenta alugar o terminal desde dezembro de 2019, mas não teve sucesso até agora. A Golar Power e a Excelerate chegaram a demonstrar interesse no negócio, mas foram desclassificadas da licitação, que está parada.
“Se a Petrobrás vender gás para todas as distribuidoras, nenhuma empresa vai alugar o terminal da Bahia, já que a demanda parte apenas das distribuidoras de gás e de grandes consumidores. É uma questão comercial”, afirma Edmar Almeida, pesquisador do Instituto de Energia da PUC-Rio. Segundo ele, caso haja problema de suprimento, enquanto não se resolve o arrendamento do terminal, a Petrobrás ou outros fornecedores poderão transportar o produto doméstico pelo gasoduto Gasene, que interliga as regiões Nordeste e Sudeste. Além disso, há a possibilidade de fornecimento por pequenos produtores de gás independentes.
No Rio Grande do Norte, a distribuidora Potigás contratou, por dois anos, 236 mil m³/d da PetroReconcavo, pequena produtora em campos terrestres locais. A entrega começará em janeiro. Em Pernambuco, com mercado consumidor de maior porte, a fornecedora será a Shell, vencedora de uma chamada pública. A petrolífera anglo-holandesa foi contratada por dois anos para abastecer o Estado com 750 mil m³/d em 2022 e 1 mil m³/d em 2023.
A Bahia também já negociou nova fonte de suprimento e aguarda o desenrolar do arrendamento do terminal de importação de GNL, segundo o secretário de Infraestrutura da Bahia, Marcus Cavalcanti.
A preocupação maior é dos Estados que têm mercado consumidor menor e menos atraentes. Alguns deles ainda aguardam a Petrobrás vender campos terrestres de produção de gás. Quem comprar esses campos poderá ser fornecedor. Mas, enquanto isso não acontece, estão sem alternativa, segundo fontes.
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