Profissional de saúde que atua em hospital de Natal relata vivência na UTI durante a pandemia da Covid-19.
Enfermeiro Marcos Cavalcanti, de 26 anos, atua na linha de frente durante a pandemia — Foto: Arquivo pessoal
As atribuições dos enfermeiros vão desde procedimentos mais simples, como medir a temperatura de um paciente, até mais complexos, como auxiliar médicos durante cirurgias. Durante a pandemia, esses profissionais atuaram na linha de frente no combate a Covid-19.
Um dos rostos escondidos pelo equipamento de proteção individual (EPI) nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) era o do enfermeiro Marcos Cavalcanti, de 26 anos.
Ele viu de perto o agravamento da pandemia e revela não ter tido outra saída a não ser "engavetar" o medo. Graduado há cinco anos em Enfermagem, ele atua na UTI em um hospital particular de Natal e conta que o momento mais impactante que vivenciou foi quando um jovem paciente em preparação para uma intubação pediu para "ver a família pela última vez".
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Com 90% do pulmão comprometido, o rapaz foi intubado. “Apertei a mão dele e disse que faríamos o possível para a sua recuperação”, conta Marcos.
Recuperação.
Após 14 dias usando Ventilação Mecânica Invasiva (VMI), submetendo-se a hemodiálise, ficando pronado a maior parte do tempo, chegou o dia da extubação. Márcio revela que, emocionado, o rapaz olhou para a equipe em volta e agradeceu pela oportunidade de continuar a viver. “Foram estes acontecimentos que nos fizeram voltar no dia seguinte para trabalhar, mesmo que cansados e sobrecarregados”, explica.
Segundo ele, o sentimento de pavor ou fobia referente ao contágio afligia os combatentes da linha de frente contra o até então "inimigo desconhecido": "Era medo de adoecer, medo de transmitir aos meus familiares, medo de perder as pessoas queridas, medo de não saber prestar a devida assistência frente a uma patologia desconhecida".
Adaptação.
Márcio conta que a rotina durante a pandemia mudou completamente. Antes ele usava roupas privativas e máscara cirúrgica para trabalhar. Na pandemia foram acrescidos capotes impermeáveis, luvas e máscara N95, além de face shield e toucas. “É uma verdadeira armadura para lutar contra o vírus”, compara o enfermeiro.
Além disso, as idas ao banheiro ou refeitório tinham que ser planejadas, pois havia a necessidade da desparamentação e nova paramentação, oferecendo o risco da contaminação.
Diante disso, para Márcio, a adaptabilidade tornou-se imprescindível. “Aprendemos a nos reinventar rapidamente e a sermos muito mais ágeis frente ao desconhecido e inesperado”, conta.
“Saíamos do plantão, mas ele não saía de nós. Seguíamos imaginando como aqueles pacientes ficaram. 'Será que pioraram ou melhoraram?', pensávamos. Ademais, o sono era complicado, já que ouvíamos o barulho dos monitores e respiradores ao fechar os olhos. Por causa da situação caótica cheguei a passar oito meses sem ver meus familiares, atuando na linha de frente. Porém, ao fim do expediente, sempre havia aquela ligação perguntando como foi o dia. Era reconfortante escutar que a pessoa do outro lado da linha estava em oração por mim e por dias melhores”, relata.
Humanização.
A humanização da relação entre profissional da saúde e paciente reside em reverenciar as relações humanas, valorizando o contato, o olho no olho e o diálogo aberto e mais próximo durante o atendimento.
Para o enfermeiro, era “impossível” não colocar-se no lugar do outro. “Víamos nos olhos dos pacientes o medo de simplesmente mudar o decúbito, porque existia medo de cansar”. Diante disso, ele comenta que o apoio do profissional se mostra crucial para a recuperação dos pacientes, inclusive auxiliando na chamada de vídeo, na “hora da visita”, para tranquilizar aqueles que ficaram em casa em busca de notícias e trazer mais leveza. Mossoró Notícias.
Gilvan Rodrigues Leite (Gestor Público e Ambiental Aposentado).
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