O dia mais letal da pandemia de covid-19 no pais em 2021 superou o total de óbitos registrado em todo o mês de dezembro. Foram 3.541 mortes no dia 29 de março, ante 3.282 no último mês do ano, de acordo com dados registrados até sexta-feira (14) no portal de transparência da Arpen Brasil (Associação de Registradores de Pessoas Naturais), que reúne informações dos cartórios de registro civil
O ano de 2021 marcou o recorde de mortes no país, resultado do descontrole da pandemia no primeiro semestre. Houve 1,7 milhão de mortes no ano passado, segundo a Arpen Brasil.
Março de 2021 foi o mês com mais mortes na história do país, com registro de 190,9 mil mortes. Dessas, 83 mil (ou 43,6%) foram causadas pela covid-19.
No período, o país viveu o pico da pandemia. A pior semana já registrada, no ápice da segunda onda em termos de óbitos, foi entre 28 de março e 3 de abril, quando as mortes de covid-19 superaram (pela única vez) a soma de todas as demais mortes naturais registradas no país.
Os números foram caindo mês após mês graças ao avanço da vacinação. Dezembro terminou como o 9º mês seguido de queda no número de óbitos pela covid-19.
Em comparação a 2020, o ano passado registrou um aumento de 17,7% no número total de mortes no país, segundo dados dos registros nos cartórios. Ressalte-se que 2020 já tinha batido recorde de óbitos, segundo dados ratificados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
Covid devastadora
Somente em 2021, 406 mil pessoas morreram de covid-19, mais que o dobro registrado em 2020 (quando foram 199 mil), segundo os cartórios.
A covid-19 foi a principal causa de morte no ano passado, mais que o dobro da segunda colocada.
Principais causas de mortes em 2021:
Covid-19 - 406.161
Septicemia - 155.727
Pneumonia - 154.736
Causas cardíacas indeterminadas - 108.652
AVC (Acidente Vascular Cerebral) - 105.724
Infarto - 101.177
Insuficiência respiratória - 80.850
Os dados de 2021 ainda podem sofrer alterações por inclusões tardias dos cartórios pelo país —o prazo para inclusão no portal é de até 15 dias, mas por vezes ele não é cumprido.
Para a sanitarista e vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), Bernadete Peres, houve uma sucessão de erros por parte do governo em 2021 na condução da pandemia.
"Mas foi algo intencional, uma necropolítica", avalia, citando a falta de um plano articulado de enfrentamento ao vírus.
"Além disso, tivemos o boicote das ações dos estados e municípios, ausência de coordenação nacional, falta de aquisição e distribuição de testes/insumos/equipamentos de proteção, retardo no início da vacinação, não realização de vigilância efetiva nas fronteiras, boicote ao SUS [Sistema Único de Saúde] e aos trabalhadores da saúde", comenta.
Ela ainda acrescenta que um dos pontos que mais deve ser levado em conta é a política deliberada de busca da chamada imunidade de rebanho. "Isso causou milhares de mortes evitáveis, estimulando a exposição ao vírus e o descrédito às medidas de proteção, como uso de máscara e todas as orientações baseadas na ciência", diz.
O resultado, que poderia ter sido evitado, foi tristeza, sequelas, mortes, famílias e comunidades desfeitas. Não foi pior por conta do SUS, das resistências comunitárias, das redes de solidariedade".
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