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sexta-feira, 18 de março de 2022

BRASILEIROS TROCAM CARRO POR MOTO COM DISPARADA DOS COMBUSTÍVEIS.

Com a disparada nos preços dos combustíveis, valorização do automóvel zero e queda do poder de compra da população, alguns brasileiros estão trocando o carro pela motocicleta como meio de transporte próprio, principalmente para ir e voltar do trabalho.

O analista de planejamento financeiro Thiago Valim, de 29 anos, sempre gostou de pilotar. Ele teve uma moto durante sete anos, mas decidiu vendê-la em 2020 e ficar apenas com o carro por conta do isolamento social.

Com o arrefecimento da pandemia e a volta presencial ao trabalho, ele sentiu no bolso o aumento de preço do combustível e dos demais gastos para manter um carro — que chegam a ser quatro vezes maiores que os da moto. Em dezembro do ano passado, Valim decidiu comprar outra moto.

"[Com o carro] Gastava R$ 400 por mês só com gasolina no ano passado. Com a moto, agora gasto no máximo R$ 130 ao mês para ir e voltar do trabalho entre Osasco e a Cidade Universitária, além de passear aos finais de semana", afirmou ele.

Em 2021, período em que o analista sentiu no bolso o aumento no valor da gasolina, o preço médio desse combustível subiu 46%, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O etanol, por sua vez, avançou 59%.

Para agravar o cenário, a Petrobras reajustou os preços da gasolina e do diesel na semana passada devido ao aumento do preço do petróleo em meio à guerra na Ucrânia. O preço médio de venda da gasolina para as distribuidoras passou de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro, um aumento de 18,8%. Para o diesel, o preço médio passou de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro, uma alta de 24,9%.

"A cada aumento do combustível, os carros vão gastar por volta de quatro vezes mais que as motos. Por exemplo, só nesse último aumento [realizado pela Petrobras], a expectativa é que donos de carros gastem R$ 1.200 a mais por ano, enquanto motociclistas devem gastar R$ 300 além do que já gastavam”, explicou Alberto Ajzental, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Maior emplacamento de motos

Com a escalada nos preços, dados do setor automobilístico indicam uma desaceleração na venda de carros — também impactada pela crise econômica, falta de peças e aumento da taxa de juros.

No primeiro bimestre de 2021, 50,2% (258.893 unidades) dos emplacamentos realizados no país foram de automóveis, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Nos primeiros dois meses de 2022, esse índice caiu para 42,3% (448.583).

De janeiro a fevereiro de 2021, foram emplacadas 163,6 mil motos, o que representa uma alta de 14,3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a federação. Por outro lado, no mesmo período de comparação, houve uma queda de 26,68% na quantidade de automóveis emplacados (de 189.796 para 258.846).

De acordo com Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), o setor sofreu com a crise provocada pela Covid-19 e com escassez de crédito, mas ganhou força após a pandemia.

"A moto ganhou uma conotação mais positiva no país. Muitas pessoas decidiram fugir da aglomeração do transporte público e compram motocicletas, principalmente as de menor cilindradas", explicou Fermanian.

O executivo acrescentou que o aumento na venda de motos também foi influenciado pelo maior índice de trabalho informal no país, que levou muitos profissionais a comprarem o veículo para trabalhar com entregas.

No 4º trimestre de 2021, o número de brasileiros na informalidade alcançou a marca recorde de 38,9 milhões, uma alta de 40,7%.

Por conta disso, a massa de todos os rendimentos do trabalho ficou estável, mas caiu 2,4% na média anual, na comparação com 2020. Ou seja, as famílias brasileiras ainda não recuperaram o seu poder de compra. Fonte:- Grupo Cidadão 190.

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