Há sempre um instante que denuncia: a xícara que balança levemente na mão, a assinatura que sai trêmula, o garfo que vacila antes de chegar à boca. O tremor costuma surgir assim, de forma discreta, quase tímida, mas suficiente para acender um alerta. É um sintoma comum, frequente no consultório e carregado de interpretações equivocadas. Nem sempre indica problema, mas raramente passa despercebido por quem o sente.
O primeiro ponto é entender que nem todo tremor é sinal de doença. Existe um tremor fisiológico, presente em todos nós, que pode se intensificar com ansiedade, estresse, febre, falta de sono, fadiga, cafeína e alguns medicamentos. É rápido, de baixa amplitude e mais evidente quando mantemos posições ou fazemos movimentos delicados. Em muitos casos, representa apenas um organismo acelerado.
Quando falamos em tremores que realmente compõem quadros neurológicos, o tremor essencial é o mais prevalente. Estudos epidemiológicos mostram que ele acomete de 0,4% a 6% da população geral. Em pessoas acima de 65 anos, essa prevalência pode chegar a 4,6% ou mais, aumentando progressivamente com a idade. Globalmente, estimativas sugerem que mais de 60 milhões de pessoas convivem com algum tipo de tremor, reforçando a magnitude do tema. No Brasil, estudos comunitários com idosos encontraram prevalência de 7,4% para tremor essencial, com aumento marcado nas faixas etárias mais avançadas.
O tremor essencial costuma ser um tremor de ação que atinge os dois braços e pode envolver cabeça ou voz. Em muitos casos há história familiar, reforçando seu caráter hereditário. Embora seja considerado benigno, pode interferir no dia a dia: levar um copo à boca, usar talheres ou assinar um documento se torna mais difícil, sobretudo em momentos de ansiedade ou fadiga, quando o tremor tende a se acentuar.
O tremor parkinsoniano é outro tremor relevante na prática clínica. Ele aparece em repouso, geralmente começa de um lado só e melhora quando o paciente se movimenta. Mais de 70% das pessoas com doença de Parkinson apresentam tremor como sintoma inicial, o que explica por que muitos pacientes associam qualquer tremor ao diagnóstico. Mas a maioria dos tremores vistos na população não tem relação com Parkinson, e essa diferenciação é essencial para evitar angústias desnecessárias.
Medicamentos também pertencem ao repertório de causas comuns. Antidepressivos, lítio, valproato, corticoides e broncodilatadores podem provocar tremor. Drogas de abuso, como álcool e cocaína, também desencadeiam o sintoma. A pista clínica, nesses casos, está no tempo: o tremor surge após o início da substância ou durante fases leves de abstinência.
O hipertireoidismo merece destaque. Quando os hormônios da tireoide estão elevados, o metabolismo acelera e o tremor das mãos torna-se fino, rápido e de ação. Pode vir acompanhado de palpitações, intolerância ao calor e perda de peso. Um simples exame de sangue esclarece o diagnóstico.
Com o envelhecimento, mesmo na ausência de doença, pequenas oscilações dos movimentos tornam-se mais comuns. Os circuitos que coordenam a motricidade perdem um pouco da precisão, e gestos antes automáticos podem ganhar leve instabilidade. Isso não impede a vida normal, mas pode gerar insegurança.
A dúvida dos pacientes é: quando investigar? Sinais de atenção incluem tremor que surge de forma súbita, assimetria importante, rigidez, lentidão, alterações da marcha, mudanças na escrita, sintomas de tireoide ou início após medicamentos novos. Nessas situações, a avaliação médica é necessária. Nos demais, reduzir cafeína, melhorar o sono, manejar o estresse e revisar medicações costuma ajudar.
Tremores têm causas variadas, mas nunca surgem à toa. Quando observamos o contexto, a evolução e o padrão, transformamos um sinal inquietante em informação útil. O corpo fala. E quando treme, o recado merece ser escutado.
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