Às 5h40 da manhã da quinta-feira (24), o presidente russo Vladimir Putin apareceu na TV, sentado em seu gabinete com uma bateria de telefones ao lado e bandeiras da Rússia atrás, e calmamente anunciou: “Decidi pôr em marcha uma operação militar especial”.
Seu discurso nem tinha acabado e várias cidades da Ucrânia, inclusive a capital, Kiev, amanheciam sacudidas por fortes explosões. Eram mísseis russos dando partida à invasão repetidamente prenunciada pelos Estados Unidos, intimamente desacreditada por muitos líderes e reiteradamente negada pelo próprio Putin — essa última, uma fala oca, de um indivíduo que há semanas mente para todo o planeta. Assim a Europa, pela primeira vez desde o fim da II Guerra, há quase oitenta anos, se defronta com um aberto conflito bélico entre dois países.
O ataque, por si só deplorável, sobe na escala dos atos inaceitáveis pela franca imoralidade de uma nação poderosa avançar sobre outra infinitamente mais fraca sem pretexto nem justificativa, a não ser a intenção de vê-la ajoelhada sob seu jugo.
Como se previa, Putin invadiu usando a desculpa de defender da suposta fúria militar e governista ucraniana os moradores de Donetsk e Luhansk, duas regiões no leste da Ucrânia controladas por grupos separatistas financiados pelos russos que há poucos dias, convenientemente, declararam sua independência — um ato que só a Rússia reconhece.
“Nosso objetivo é proteger pessoas submetidas a perseguição e genocídio. Lutamos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia”, pontificou, ameaçando quem interferir com “consequências jamais experimentadas na história”. Aos ataques de mísseis se seguiram tanques e tropas avançando através da fronteira com Belarus, mais ao norte — onde forças russas se concentravam havia semanas — e escaramuças no bolsão separatista, onde mercenários russos vinham se infiltrando fazia dias.
Confirmada a invasão, em Kiev e outras cidades a população apavorada tentava fugir de carro, de ônibus e mesmo a pé, provocando enormes congestionamentos. As primeiras notícias falavam de dezenas de mortos, entre eles civis.
Enquanto Putin estava na TV, o Conselho de Segurança da ONU se reunia em sessão noturna justamente para tentar retomar negociações. Pegos de surpresa, os presentes partiram para o bate-boca. “Isso é invasão”, bradou o representante ucraniano. “Não, é uma operação especial”, rebateu o russo. Em Washington, Joe Biden condenou a “guerra premeditada, que resultará em catastrófica perda de vidas e sofrimento humano”.
“Os Estados Unidos e seus parceiros e aliados vão responder de modo unido e decisivo”, disse — o tipo de ameaça que até agora não teve efeito algum sobre Putin.
O presidente francês Emmanuel Macron foi um dos que, sentado na ponta de uma mesa de 6 metros (distância obrigatória porque se recusou a fazer teste de Covid em Moscou, para não ceder amostra de seu DNA), tentaram argumentar com Putin na outra ponta. Saiu falando que alinhavara um diálogo e foi prontamente desmentido.
O ataque foi censurado em boa parte do mundo. A Otan, aliança militar entre Estados Unidos e Europa criada para fazer frente à União Soviética e que virou um espinho na garganta de Putin, disse em comunicado que “as ações da Rússia apresentam séria ameaça à segurança e terão consequências geoestratégicas”. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, prometeu, em represália, “enfraquecer a economia da Rússia e sua capacidade de modernização”. Houve exceções, porém. O governo de Jair Bolsonaro — que, no meio da crise, manteve uma estapafúrdia visita a Moscou e apertou a mão de Putin — limitou-se inicialmente a apelar para “a suspensão imediata das hostilidades e o início de negociações”. A China, que na crise engatou uma cautelosa aproximação com Moscou, evitou usar a palavra “invasão” e pediu “moderação” às duas partes. Fonte:- Grupo Cidadão 190. Compartilhe.
Gilvan Rodrigues Leite (Gestor Público e Ambiental Aposentado).