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sábado, 15 de agosto de 2020

NO DIA QUE CHICO CALUNGA PERDEU-SE NA MATA



 Transcorria o mês de maio do ano de 1961, um ano de rigoroso inverno; meu Tio FRANCISCO RODRIGUES XAVIER (CHICO CALUNGA) trabalhava na agricultura, em Ponta do Mel, Areia Branca-RN. Numa tarde, ele e sua esposa, Tia Chiquinha, subiram a Serra no intuito de fazer a colheita de alguns víveres plantados. Feita a colheita, ele falou para a esposa voltar para casa, pois iria numa carvoeira próxima verificar se os carvões já estavam prontos para serem retirados para comercialização. Ela desceu a Serra e ele adentrou na mata em busca da carvoeira. Anoiteceu e infelizmente ele não retornou, causando enorme preocupação no seio da família e de toda comunidade da praia de - Ponta do Mel -, em Areia Branca-RN. Então instalou-se um clima de angústia, e com o passar das horas a preocupação só aumentava, pois começou uma chuva torrencial, com relâmpagos, trovões e rajadas de vento, tão comuns naquele região, naquele período. Amanheceu o dia, e a família arregimentou alguns caçadores voluntários para o início das buscas. Minha mãe, Luzia Rodrigues de Souza foi avisada em Areia Branca, onde morávamos e imediatamente nos deslocamos para a casa de Ponta do Mel. Sob o comando de minha mãe, que de casa orientava as equipes, as buscas se intensificaram. Caçadores e rastreadores subiram a Serra, levando rêdes, medicamentos, água potável, comida e foguetões para avisar uns aos outros sobre o andamento das buscas. Cada quantidade de foguetões disparados tinha um significado caso fosse encontrado com vida, morto ou enfermo. Devido ao inverno rigoroso o trabalho dos rastreadores e caçadores foi prejudicado, pois a chuva apagava os rastros e marcas deixadas pelo desaparecido. Passaram-se três noites e nenhuma notícia alentadora chegava na incipiente Vila de Ponta do Mel, assim, aumentando o desespero da família. Na manhã do quarto dia, um Jeep para na beira da praia trazendo Chico Calunga, vestido de roupas improvisadas de sacos de cereais. Depois de passar três dias e três noites perdido na mata fechada, comendo frutas silvestres e bebendo água acumulada nas folhas, caminhando sempre e andando em círculos, nosso “herói” avistou de longe a casa da - Fazenda dos irmãos Aldemar e Valdemar Filgueira, administrada pelo Sr. Nelci Fernandes -, e após ser identificado recebeu os primeiros socorros, alimentação saudável e roupas improvisadas. No primeiro Jeep que passou pela Fazenda, o Sr. Nelci o embarcou para Ponta do Mel, sendo sua chegada bastante festejada pela família, pela comunidade e distritos vizinhos. Imediatamente começaram a soltar foguetões para anunciar a boa nova; os sinos da Capela de São Sebastião tocavam e uma verdadeira romaria chegava em frente à nossa casa para comemorar o final feliz de um episódio. Tudo começou porque nosso herói “ariou-se" (desorientou-se), mas com a graça de Deus retornou são e salvo.

Gilvan Rodrigues Leite (Gestor Público e Gestor Ambiental).

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