SAUDADES DO AMIGO LUIZ GAMELEIRA DO REGO. Quando cheguei em João Câmara, e recomendado por uma sobrinha de Dora, sua mulher, vim bater à sua porta, em busca de apoio para a minha chegada à cidade, onde vim em busca de uma nova vida. E não se pode falar em Gameleira, o agricultor, agro pecuarista, radialista, político e estudioso autodidata sem falar de suas atitudes. A primeira impressão que tive dele foi de um homem afável. A voz inconfundível, o cumprimento sempre solene, demonstrando simpatia. Mas como eu nutria por ele grande admiração, decidí lhe revelar meu respeito e consideração. Dono de uma vitalidade admirável, de uma sensibilidade coletiva comovente, Gameleira não nasceu para uma existência descolorida, mas para iluminar todos por onde passava. O menino que foi, foi o homem em vida: alegre, correto, leal, íntegro, amigo. Luiz Gameleira não foi escravo de fórmulas paralisadas pela ferrugem do tempo. Ao contrário, foi um homem criativo, inovador, prudente, equilibrado, sem preconceitos, que o horizonte amplo de sua experiência apontava o caminho justo, sempre carregando, como costumava dizer, Deus do Coração, o Deus do perdão e da compreensão, sabidamente as mais reveladoras formas de amor. A firmeza de suas convicções reflexivamente adquiridas fez estimular nos dezesseis anos como Vereador e depois Chefe de Gabinete do Palácio Torreão, maior admiração pelo que ele foi. Gameleira tinha biografia. Simples, humilde e generoso, ele sabia que a vida valia pelo uso de fazemos dela, pelo perdão que ofertamos, pela compreensão aos semelhantes. A perfeição moral, penso, manifesta-se sempre que se escolhe o bem, seja fazendo-o ou ensinando-o. Gameleira foi um homem bom, generoso. Avesso às condescendências permitidas, olhava sempre para o alto e para longe, talvez pelo amor que dedicava à terra, à natureza. Ele não viveu para sí, mas para a família, para os amigos, para a terra, para os animais que criava com amor, para a política. Num mundo onde há subversão de valores morais, onde nomes são falseados, conceitos distorcidos, onde ser inteligente é ofensivo, e ser honesto é ser besta, colho no exemplo de Luiz Gameleira muitas lições, sobretudo o ensinamento de que "toda grandeza de espírito exige cumplicidade de coração". Em um país de tão reduzida cultura de solidariedade como é o nosso, necessitando de paradigmas e de referencias valorativas, a figura de Gameleira avultava sempre agigantada no perfil superlativo com que ele via o ser humano; como um igual. Certa vez eu conversava com Gameleira e ele falava de suas origens interioranas. com orgulho de seu passado, e, longe de se mostrar revoltado ou amargurado com o seu destino, dizia-se sentir devedor à sua família, reconhecido pelo que aquelas figuras descarnadas, suas raízes fizeram de sí, embora saibamos qual frágil e maleável é a memória das coisas distantes, convertendo muitas vezes, o tempo e o esquecimento interpostos, transformar muitas recordações em fantasias. Mas Gameleira sabia que o amor purificava todas as virtudes. Anonimamente, sem que ninguém precisasse saber, eu soube e testemunhei grandes gestos de Gameleira para ajudar amigos. Ele tomava iniciativa de ajudar pessoas simples e mobilizava muita gente para fazer o mesmo. Que homem formidável! Era amigo porque desejava o bem do outro, porque ficava triste com a tristeza do outro, se contentava com a felicidade do seu igual. Era o irmão que a gente escolhia, e Gameleira teve uma legião de amigos que soube ao longo dos anos, cativar. Nasceu no longinquo 29.08.1939 e deixou-nos na madrugada do dia 09.11.2015, após breve, mas voraz enfermidade, deixando a família, os amigos, a cidade de João Câmara, órfãos de sua presença. Fisicamente de forte compleição física, era um homem de coragem e possuia uma alma superlativa. Foi, não tenho dúvidas, um dos maiores homens desta cidade. Sua vida nos marcou. Foi um grande homem. Sua vida um sinal da glória de Deus!
Gilvan Rodrigues Leite (Gestor Público e Ambiental aposentado).
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