5 de novembro de 1849 - Nascia em Salvador, Rui Barbosa, político, diplomata, advogado e jurista brasileiro. Representou o Brasil na Conferência de Haia, sendo reconhecido como “O Águia de Haia”. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras e seu presidente entre 1908 e 1919.
Filho de João José Barbosa de Oliveira e de Maria Adélia Barbosa de Almeida, Rui Barbosa de Oliveira nasceu em Salvador, dia 5 de novembro de 1849.
Cursou os estudos primários e secundários em sua cidade natal. Ingressou no curso de Direito do Recife, mudando-se para a capital paulista, onde terminou seus estudos na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1870.
Foi morar no Rio de Janeiro, onde exerceu a profissão de advogado e jornalista.
Teve grande atuação política ocupando diversos cargos: Deputado da Província da Bahia (1878), duas vezes Deputado Geral (1878 a 1884), e cinco vezes eleito Senador (1890-1921).
Foi Ministro da Fazenda no Governo de Deodoro da Fonseca. Disputou o cargo na Presidência da República em duas ocasiões (1910, contra Hermes da Fonseca, e 1919, contra Epitácio Pessoa), sendo derrotado em ambas.
Quando concorreu ao cargo contra Hermes da Fonseca em 1910, Rui Barbosa denominou sua Campanha Presidencial de “Campanha Civilista”, a qual se propagou por todo o território nacional.
Na campanha, ele propôs a ordem civil bem como uma política mais efetiva para o país, demostrando assim, propriedade e solidez em seus discursos. Nas palavras do intelectual:
"O civilismo é um princípio, é uma doutrina, é uma aspiração moral, é uma antecipação do futuro, é uma clareza do espírito de Deus aberta neste inferno, é alguma coisa que nos fala do bem, da honra e da justiça!"
Ficou conhecido como “Águia de Haia” uma vez que destacou-se na participação da “Segunda Conferência Internacional da Paz de Haia”, ocorrida em 1907, nos Países Baixos, em que defendeu a igualdade entre as nações.
Mais tarde, foi nomeado Juiz da Corte Internacional de Haia e, ao lado de outros intelectuais, foi indicado como um dos “sete sábios de Haia”. Após o evento, Rui declara:
"Vi todas as nações do mundo reunidas, e aprendi a não me envergonhar da minha. Medindo de perto os grandes e os fortes, achei-os menores e mais fracos do que a justiça e o direito."
Dono de uma produção intelectual muito vasta, Rui Barbosa escreveu diversas obras, composta de poemas, artigos, ensaios, discursos.
Dentre suas obras, destaca-se o discurso escrito para os formandos da Faculdade de Direito do largo São Francisco em 1920, denominado: “Oração aos Moços”:
"[...] Há estudar, e estudar. Há trabalhar, e trabalhar. Desde que o mundo é mundo, se vem dizendo que o homem nasce para o trabalho: "Homo nascitur ad laborem". Mas o trabalhar é como o semear, onde tudo vai muito das sazões, dos dias e das horas. O cérebro, cansado e seco do laborar diurno, não acolhe bem a semente: não a recebe fresco e de bom grado, como a terra orvalhada. Nem a colheita acode tão suave às mãos do lavrador, quando o torrão já lhe não está sorrindo entre o sereno da noite e os alvores do dia.
Assim, todos sabem que para trabalhar nascemos. Mas muitos somos os que ignoramos certas condições, talvez as mais elementares, do trabalho, ou, pelo menos, mui poucos os que as praticamos. Quantos serão os que acreditem que os melhores trabalhadores sejam os melhores madrugadores? que os mais estudiosos não sejam os que oferecem ao estudo os sobejos do dia, mas os que o honram com as primícias da manhã?
Dirão que tais trivialidades, cediças e corriqueiras, não são para contempladas num discurso acadêmico, nem para escutadas entre doutores, lentes e sábios. Cada um se avém como entende, e faz o que pode. Mas eu, nisto aqui, faço ainda o que devo. Porque, vindo pregar-vos experiência, cumpria que relevasse mais a que mais sobressai na minha estirada carreira de estudante.
Estudante sou. Nada mais. Mau sabedor, fraco jurista, mesquinho advogado, pouco mais sei do que saber estudar, saber como se estuda, e saber que tenho estudado. Nem isso mesmo sei se saberei bem. Mas, do que tenho logrado saber, o melhor devo às manhãs e madrugadas. Muitas lendas se têm inventado, por aí, sobre excessos da minha vida laboriosa. Deram, nos meus progressos intelectuais, larga parte ao uso em abuso do café e ao estímulo habitual dos pés mergulhados n'água fria. Contos de imaginadores. Refratário sou ao café. Nunca recorri a ele como a estimulante cerebral. Nem uma só vez na minha vida busquei num pedilúvio o espantalho do sono.
Ao que devo, sim, o mais dos frutos do meu trabalho, a relativa exabundância de sua fertilidade, a parte produtiva e durável da sua safra, é às minhas madrugadas. Menino ainda, assim que entrei ao colégio, alvidrei eu mesmo a conveniência desse costume, e daí avante o observei, sem cessar, toda a vida. Eduquei nele o meu cérebro, a ponto de espertar exatamente à hora, que comigo mesmo assentava, ao dormir. Sucedia, muito amiúde, encetar eu a minha solitária banca de estudo à uma ou às duas da antemanhã. Muitas vezes me mandava meu pai volver ao leito; e eu fazia apenas que lhe obedecia, tornando, logo após, àquelas amadas lucubrações, as de que me lembro com saudade mais deleitosa e entranhável.
Tenho, ainda hoje, convicção de que nessa observância persistente está o segredo feliz, não só das minhas primeiras vitórias no trabalho, mas de quantas vantagens alcancei jamais levar aos meus concorrentes, em todo o andar dos anos, até à velhice. Muito há que já não subtraio tanto às horas da cama, para acrescentar às do estudo. Mas o sistema ainda perdura, bem que largamente cerceado nas antigas imoderações. Até agora, nunca o sol deu comigo deitado, e, ainda hoje, um dos meus raros e modestos desvanecimentos é o de ser grande madrugador, madrugador impenitente.
Mas, senhores, os que madrugam no ler, convém madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas.
Já se vê quanto vai do saber aparente ao saber real. O saber de aparência crê e ostenta saber tudo. O saber de realidade, quanto mais real, mais desconfia, assim do que vai apreendendo, como do que elabora.[...]"
Rui Barbosa faleceu em Petrópolis, dia 1º de março de 1923, aos 73 anos.
PRINCIPAIS OBRAS:
Castro Alves: Elogio do Poeta pelos Escravos (1881)
Finanças e Políticas da República: Discursos e Escritos (1893)
Os Atos Inconstitucionais do Congresso e do Executivo ante a Justiça Federal (1893)
Cartas de Inglaterra (1896)
Posse dos Direitos Pessoais (1900)
O Código Civil Brasileiro (1904)
O Acre Septentrional (1906)
O Brasil e as Nações Latino Americanas na Haia (1908)
O Direito do Amazonas ao Acre Septentrional (1910)
Plataforma (1910)
O Dever do Advogado (1911)
Problemas de Direito Internacional (1916)
Oswaldo Cruz (1917)
FRASES ILUSTRES:
"Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles.”
“A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é o maior elemento da estabilidade.”
“Se os fracos não têm a força das armas, que se armem com a força do seu direito, com a afirmação do seu direito, entregando-se por ele a todos os sacrifícios necessários para que o mundo não lhes desconheça o caráter de entidades dignas de existência na comunhão internacional.”
“A espada não é a ordem, mas a opressão; não é a tranquilidade, mas o terror, não é a disciplina, mas a anarquia não é a moralidade, mas a corrupção, não é a economia mas a bancarrota.”
“O ensino, como a justiça, como a administração, prospera e vive muito mais realmente da verdade e moralidade, com que se pratica, do que das grandes inovações e belas reformas que se lhe consagrem.”
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