O Brasil perdeu 15,7% de superfície de água nos últimos 30 anos, o equivalente a 3,1 milhões de hectares de superfície hídrica, revela um levantamento inédito do MapBiomas, uma iniciativa que reúne cientistas e ambientalistas para mapear o país.
O levantamento mostra que em 1991 a superfície hídrica do país era de 19 milhões de hectares. Em 2020, essa área foi reduzida para 16,6 milhões de hectares, uma redução equivalente a mais de uma vez e meia a superfície de água de toda região Nordeste em 2020.
As maiores reduções da superfície da água encontram-se próximos a fronteiras agrícolas, o que sugere que o aumento do consumo, construção de pequenas represas em fazendas, que provoca assoreamento e fragmentação da rede de drenagem e que vem junto com o desmatamento e aumento de temperatura, são fatores que podem explicar as da diminuição da superfície da água no Brasil.
É o caso, de acordo com o documento, do Rio Negro, na Amazônia, que perdeu 22% da sua superfície desde os anos 90; e do Rio São Francisco, que corre por áreas de Cerrado e Caatinga, que perdeu 10% em sua superfície nos últimos quinze anos, ambos por causa da expansão da fronteira agrícola.
A construção de grandes obras com impactos ambientais nas últimas décadas também ajudam a explicar a perda hídrica ocorrida no período, segundo o pesquisador Carlos Souza, coordenador do grupo de trabalho de Água do MapBiomas.
"Mudanças no uso e cobertura da terra, construção de barragens e de hidrelétricas, poluição e uso excessivo dos recursos hídricos para a produção de bens e serviços alteraram a qualidade e disponibilidade da água em todos os biomas brasileiros. Ao mesmo tempo, secas extremas e inundações associadas às mudanças climáticas aumentaram a pressão sobre os corpos hídricos e ecossistemas aquáticos” - Carlos Souza, do MapBiomas.
Os recursos hídricos de todos os biomas - Pantanal, Cerrado, Caatinga, Pampa e Amazônia - foram afetados por construções de barragens e hidrelétricas. "A perda da superfície de água natural por causa da água armazenada em estruturas construídas pelo homem tem consequências preocupantes na alteração do regime hídrico, afetando a biodiversidade e a dinâmica dos rios", alerta o documento.
Hidrelétricas comprometem futuro do Pantanal
Todos os biomas perderam parte de seus recursos hídricos no período analisado, mas a situação foi pior no Pantanal. O bioma abriga o estado com a maior perda absoluta e proporcional de superfície de água na série histórica de 35 anos analisada pela equipe do MapBiomas: o Mato Grosso do Sul, com uma redução de 57%.
Se em 1985 o Mato Grosso do Sul tinha mais de 1,3 milhão de hectares cobertos por água, em 2020 eram apenas pouco mais de 589 mil hectares. Mais de 780 mil hectares de água foram perdidos no período. Essa redução se deu basicamente no Pantanal, mas toda a bacia do Paraguai é afetada pela redução da superfície de água.
O levantamento destaca a situação da perda de água no Rio Paraguai, no bioma pantaneiro. Os pesquisadores explicam que a construção de hidrelétricas é uma das principais causadoras da diminuição do nível da água, uma vez que estas obras afetam a biodiversidade e a dinâmica dos rios.
"Elas [barragens] se somam a um modelo de produção agropecuária que altera o regime de drenagem da água e intensifica a deposição de sedimentos, reduzindo a vazão da água", aponta Cássio Bernardino, coordenador de projetos do WWF-Brasil.
Bernardino destaca que o Pantanal tem dezenas de novas barragens projetadas para a região, com pouca contribuição para o sistema elétrico e um grande potencial de impactos. "Se esse modelo de desenvolvimento não for revisto, o futuro Pantanal está comprometido”, diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário