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terça-feira, 19 de outubro de 2021

"A NOSSA DOR NÃO É MIMIMI, NÓS NÃO SOMOS PALHAÇOS", DIZ À CPI PAI QUE PERDEU FILHO PARA COVID.

Em um pronunciamento emocionado à CPI da Covid nesta segunda-feira (18), o taxista Márcio Antônio Silva criticou o que chamou de "deboche" do presidente Jair Bolsonaro sobre a doença e cobrou um pedido de desculpas de Bolsonaro pelos atos e declarações durante a pandemia.

Márcio Antônio perdeu o filho, Hugo Dutra do Nascimento, em abril de 2020 em decorrência da doença. O pai se notabilizou ao participar de um ato em homenagem aos mortos pela Covid na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, que terminou em confusão.

Em meio à homenagem, um homem que não participava do ato decidiu derrubar as cruzes. Márcio, indignado, fincou novamente os objetos na areia

"Eu acho que nós merecíamos um pedido de desculpa da maior autoridade do país. Porque não é questão política – se é de um partido, se é de outro. Nós estamos falando de vidas de pessoas. Cada depoimento aqui, eu acho que, em cada depoimento, um sentiu o depoimento do outro e acrescentou o que o outro tinha para falar, entendeu? Então, a nossa dor não é mimimi, nós não somos palhaços, entendeu? É real, sabe?”, afirmou Silva, visivelmente abalado.

Nesta segunda, o taxista foi um dos sete convidados da CPI. Com perfis variados, os depoentes relataram aos senadores como perderam pais, marido, filho, irmã – e cobraram justiça.

Emocionado, Márcio Nascimento disse que precisava fazer um desabafo e que quer sair da CPI "só para curtir o meu luto".

“O último momento que eu tive com o meu filho, que eu fui reconhecer, ele estava dentro de um saco. Eu tive que orar bastante, pedir a Deus para conseguir ir lá e reconhecer o meu filho, porque, como pai, era a última coisa que eu tinha que fazer por ele. Eu não pude dar um abraço no meu filho, eu não pude dar o último beijo. Eu cheguei a levar uma roupa para vesti-lo. Não consegui fazer nenhum ato simbólico, e um dos atos simbólicos: eu tive que ficar parado três horas, na porta do cemitério, ou quatro, olhando um carro, sabendo que o meu filho estava ali dentro, para ser enterrado”, afirmou.

“Então, a minha dor não é ‘mimimi’. Não é, não é. Dói para caramba mesmo – dói, dói. Não aceito que ninguém aceite isso como normal. Não é normal. Não é minha só, não. É de todas as pessoas que perderam, de todas as pessoas que perderam pessoas tão queridas, porque todas são queridas. Não importa que meu filho tenha 25 anos, isso não é relevante. Não importa que a mãe dela tenha 80. São vidas, são pessoas que a gente ama, como todos aqui amam”, afirmou.

G1.                                                       
Gilvan Rodrigues Leite (Gestor Público e Ambiental Aposentado).


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