Sair das salas de aula da universidade e encarar os corredores lotados de pacientes com sintomas de uma das maiores doenças que acometeu a humanidade em 100 anos foi um desafio que precisou ser encarado por centenas de médicos recém-formados no Brasil e no Rio Grande do Norte. Tendo de lidar com as centenas de mortes, as incertezas da Covid-19 o medo de levar a doença para familiares em casa, os novos médicos ingressaram na profissão em “clima de guerra” para vencer o vírus. Nesta segunda-feira (18), Dia do Médico, a TRIBUNA DO NORTE ouviu vários novos profissionais para saber os desafios da profissão durante a pandemia.
Em muitos casos, vários profissionais terminaram às pressas as últimas cadeiras e estágios para poder ingressar nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), hospitais e centros Covid. De acordo com um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), até junho do ano passado, a antecipação de formaturas colocou no mercado da saúde 5.173 novos médicos. Foram 650 em março, 3.121 em abril e 1.402 em maio. A antecipação só foi possível graças a uma portaria do MEC (Ministério da Educação) que dispôs sobre a possibilidade de adiantar a colação de grau. Só na UFRN, por exemplo, pelo menos 237 médicos se formaram desde o ano passado. Outros 50 estão previstos até o fim do ano.
Para o médico e diretor o Hospital Estadual Giselda Trigueiro, André Prudente, a chegada desses novos profissionais foi fundamental para garantir o atendimento dos pacientes no pico da pandemia de Covid-19. Na avaliação do infectologista, a chegada desses novos médicos auxiliou na formatação de escalas, que chegou a ficar desfalcada em vários setores.
“Os recursos humanos são muito escassos na saúde, a mão de obra especializada. Então num momento em que a sociedade mais precisava, quantos mais médicos tivéssemos para atendimento seria melhor. Muitos desses que se formaram na pandemia fizeram um acordo com as universidades de fazer estágio em locais que atendessem Covid para antecipar em alguns meses a formatura para que eles fossem para a linha de frente”, avalia.
Uma dos médicas do Rio Grande do Norte que teve sua formatura e colação de grau antecipada foi a natalense Caroline Ribeiro, 30 anos. Ela teve o diploma emitido um semestre antes do fim do curso, na Universidade Potiguar (UnP), já com o intuito de trabalhar na linha de frente da Covid-19.
Durante a pandemia, a médica atendeu em várias Unidades Básicas de Saúde de Natal e em UPAs. Ela comenta que o desconhecimento da doença e a falta de estrutura em certas situações foram outras questões que chamaram sua atenção durante a pandemia de coronavírus.
“O que mais me abalou foi a falta de oxigênio e insumos nas UPAS. O desespero de todos me marcou muito. E nos ambulatórios de postos de saúde, era lidar com os familiares, com as pessoas dizendo que o pai, mãe, estava intubado, na UTI. Chocou muito estar recém-formado e as pessoas descarregando tudo isso, marcou muito”, disse.
Ainda de acordo com ela, o medo de levar o vírus para casa e família era seu principal temor. O esposo dela, por exemplo, é asmático e possui outros problemas respiratórios.
“Muito esgotamento e muitas vezes não tinha o que fazer. Ficávamos nos perguntando onde mais poderíamos ajudar e muitas vezes não tem como. Foi muito desgastante, estressante. E trazer essa carga para a família, porque carregávamos muito. Trazer a preocupação e o medo de contaminar os familiares ”, comenta. “Tive que pagar Uber para pacientes em algumas vezes. Tinha que ajudar como podia”, revela.
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