Jandaíras vivem em pequenas caixas de madeira e são tratadas como integrantes da família.
Uma família de Mossoró, município localizado na região Oeste potiguar, cria abelhas em pequenas caixas de madeira dentro de casa. Os insetos são tratados como integrantes da família há cerca de 3 anos.
As abelhas criadas pela família são jandaíras do gênero meliponas. Elas não possuem ferrão e podem ser criadas dentro de casa. A pequena Aimê, de 8 anos, se diverte com as integrantes da família sem medo. De tanto cuidar, ela já sabe diferenciar os moradores da colônia.
“O zangão tem um bichinho branco aqui (na cabeça), e a fêmea não, é por isso que dá pra distinguir”, explica Aimê.
As pequenas trabalhadoras são gigantes na tarefa de manter a biodiversidade dos biomas brasileiros. Muitas espécies vegetais são totalmente dependentes das abelhas para o processo de polinização, que é a reprodução. Ao passar de flor em flor, essas abelhinhas carregam o pólen e fazem a fecundação, gerando assim a produção da semente e o surgimento de uma nova planta.
Estima-se que no Rio Grande do Norte existam 14 espécies de abelhas nativas sem ferrão, mas a mais comum é a jandaíra, a mais indicada para criar em casa. As abelhas dessa espécie podem fazer a polinização de plantas em um raio de até 3 mil metros.
Uma característica das abelhas sem ferrão é que elas polinizam não só plantas nativas da região, mas também espécies exóticas.
“Em cerca de 75% dos alimentos produzidos pelos seres humanos, hoje, há a necessidade da polinização. E boa parte dela é feita pelas abelhas, então veja como é importante criar abelha no seu entorno. Para quem mora em casa ou para quem mora em condomínio, a gente tem a garantia de que as frutas daquela região e outras plantas estão tendo a polinização. Então esse é o grande trunfo dos criadores de abelhas, eles fazem um serviço de graça para grandes produtores de frutas e hortaliças”, explica Victor Hugo Pedraça, agrônomo, meliponicultor e pai de Aimê.
Do jardim do condomínio onde Victor mora, as abelhas sobem para o apartamento dele. A organização social delas é composta pelas operárias, que fazem a manutenção da colmeia, alguns zangões e uma abelha rainha, responsável pela postura, nascimento de novas abelhas e por manter a colônia unida.
O manejo é simples. É preciso abrir a caixa para fazer a limpeza apenas uma vez por semana. Mesmo assim, o meliponicultor orienta que é necessário fazer uma capacitação para começar a criar as abelhas sem ferrão.
“A partir de dois, três anos de experiência, a gente sugere que os criadores possam trazer para o seu meliponário outras espécies de abelhas nativas da sua região. Evitar a ideia de trazer abelhas de outros biomas, porque essas abelhas evoluíram com as nossas características fitossociológicas. Quando a gente traz (abelhas de outros biomas), a gente pode criar um desequilíbrio e não é legal, então a pessoa tem que ter a proposta de sempre criar abelhas nativas”, explica Victor.
A empresária Erica Maropo, esposa do meliponicultor Victor, conta que no início os vizinhos estranharam e até ficaram surpresos com a vizinhança exótica.
“Eles vinham muito nos visitar, mas era mais pra conhecer as abelhas. A gente abria a caixa, eles olhavam e ficavam encantados, porque muita gente acha que toda abelha tem ferrão, e eles tiveram conhecimento que nem todas as abelhas têm ferrão”, conta Érica.
Além de contribuir com o meio ambiente, toda a produção das abelhas também é transformada em saúde. O café da manhã na casa da família é rico em produtos produzidos pelas jandaíras. Tem mel, extrato de própolis e o pólen, uma espécie de farinha que pode ser misturada com frutas e geleias. INTER TV COSTA BRANCA.
Gilvan Rodrigues Leite (Gestor Público e Ambiental Aposentado).